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Fuga do Paraíso e Retorno ao Éden

O Homem Primitivo, com cérebro límbico e reptiliano, vivia num ambiente animista, inseparável das árvores, pedras, animais e do nascer do sol. Não havia distinção entre si e o resto. Não havia dualidades, nenhuma relação sujeito/objeto. Não isto e aquilo. A Terra era um jardim, uma unidade sem limites, porque ninguém podia entendê-la de outra forma. Uno com a natureza, literalmente.

Depois do cérebro límbico e reptiliano, surgiu o neocórtex. A consciência auto-reflexiva. A habilidade de perceber as mudanças. A razão. Eu e tu. Surge a dualidade, a diferença entre isto e aquilo, sujeito e objeto.

O homem podia separar-se na natureza, distanciar-se das plantas e animais, avaliar a influência da natureza em sua experiência. Auto-reflexão.

Comemos da árvore do conhecimento do bem e do mal e fomos para o Leste do Éden. Perdemos o contato conosco mesmo, como parte integrante da natureza. Perdemos nosso contato com o Divino.

O princípio cartesiano: “Penso, logo existo”. O pensamento através da percepção dá lugar a um raciocínio intelectual. Separação. Um cérebro racional, um cérebro com linguagem própria e definições, defendido pelas grossa muralhas da lógica, das visões que não podemos explicar. As leis são concebidas, escritas e programadas dentro da tábula rasa do neocórtex, a fim de explicar aquilo que queremos ver, mitos e religiões se concentram em guias e resposta do inexplicável.

Será que simplesmente perdemos a visão? Nossa capacidade de ter acesso ao Divino dentro da natureza, dentro de nós mesmos?

Aqui estamos nós ocidentais, obrigados a suportar o ônus do afastamento de Deus, nosso destino preso a eterna procura por fatos e respostas que se encaixem dentro de uma estrutura lógica. Limitamos as dimensões do que é ser humano.

No entanto a natureza espera pacientemente.

Se a consciência é energia, e nossa energia vem da mesma fonte (sem sombra de dúvida), se nossa origem biológica é a mesma, é de espantar que existe um nível de consciência comum a todas as coisa? E que um indivíduo adquira a habilidade de penetrar essas esferas inconscientes e estabelecer uma conexão com a realidade num nível básico? Separar o corpo espiritual do biológico e curá-lo?

A energia, a consciência, o Divino.

Essa é a mensagem do credo cristão. O credo budista. A cabala e o upanixade.

O princípio fundamental do mito e da religião. Princípios que um dia entendi e nos quais acreditei.

Porém a fé não tem significado, e as faces de Deus interpõem-se entre nós e a experiência do Divino.

A nossa racionalização das coisas efêmeras, nossa barreira intelectual ao transcedente, a versão do Divino através do cérebro pensante, eram apenas mais uma das máscaras de Deus. Todas as manifestações de Deus, assim como a própria palavra formada no cérebro da linguagem, eram e são meramente pensamentos sobre aquilo que jaz além do pensamento.

Aquém do pensamento.

Aquém da própria consciência. Falar o nome de Deus é nomear o inominável, é carregar o conceito do Divino em nossas mentes, é carregar um escudo entre nós e a experiência do Divino. Jeová. “Aquele que é”. Não se pode pensar a respeito. Todas as noções sobre Deus são blasfêmias.

Coisas que podem ser conhecidas, mas não ditas.

É verdadeiramente fascinante como a diferença filosófica de duas culturas pode levar a diferenças tão extremas na prática.

O mundo ocidental as nações “civilizadas” que são chamadas de cultura de “Primeiro Mundo”, regem a Terra para garantir sua força econômica e militar. E o fundamento filosófico da cultura ocidental baseia-se numa religião que fala em cair em pecado original e expulsão do Paraíso. Para o Ocidente, esse conceito é fundamental para sua mitologia, que é representada por uma natureza hostil e um ser humano corrupto.

Ao comer a Maça, Adão e Eva foram expulsos do Paraíso e tiveram que tirar o seu sustento da força de seu trabalho. É um mito tão peculiar, a ênfase não está no relacionamento do homem com seu meio, a Natureza, o Jardim, mas no relacionamento do Homem consigo mesmo, como um exilado, lutando pelo seu próprio sustento, tornando-se consciente num mundo hostil. Os ocidentais aceitaram esses valores, promoveram esse conceito através da arte, literatura e filosofia. O fato é que se tornou entranhado, como uma segunda natureza, não é isso?

Penso que sim. Nos vivemos uma vida inteira numa cidade, por exemplo. Ela nos oferece proteção, um ambiente controlado e atua como um anteparo entre o indivíduo e a natureza. Até os alimentos no supermercado são preparados, antes de serem postos à venda, quer amadurecidos artificialmente, maquiados ou preservados, e depois empacotados para o consumo.

Então os ocidentais, os expulsos do Paraíso, voltaram-se para seu interior, e é interessante que dentro desse tipo de cultura, quando as pessoas atravessam uma crise psicológica, digamos, um episódio psicótico ou neurótico, elas vão buscar ajuda na religião, psiquiatria ou medicamentos, em lugar de procurar a natureza para recuperar-se para tornar-se normal novamente. Não é assim que acontece?

Entretanto nós nos deparamos com um posto de vista totalmente diferente, quando a tradição de uma cultura não se baseia no pecado original, e na qual o homem foi expulso do Paraíso e vive próximo à natureza, considerando-a uma manifestação divina. Nessas culturas, a interrupção de um episódio esquizofrênico processa-se através da magia. A mente inconsciente abre-se e, se a pessoa for jovem, ela é incentivada a mergulhar em sua própria mente, em vez de ser retirada da beira do precipício. Elas imergem no inconsciente, nos domínios da pura imaginação, nos domínios dos arquétipos de Jung, no mundo do Espírito. Estão livres para experimentar outros domínios da mente, o que acaba resultando numa mudança de atitude. Em muitas culturas primitivas, elas se convertem em xamãs. E já vivenciaram o divino.

Vocês podem me perguntar se eu estaria sugerindo que episódios psicóticos e surtos esquizofrênicos deveriam ser estimulados. Não estou sugerindo nada disso. Seria perigoso promover esses incidentes dentro da nossa cultura, porque as crenças ocidentais se baseiam em milhares de anos de tradição de que comportamentos desse tipo não são normais, nem naturais, nem saudáveis. Estou apenas aqui, assinalando a diferença. Na cultura primitiva, a abertura do inconsciente é uma benção. É incomum, sim. Mas não anormal. Essas crianças são da Terra, do Jardim, vivendo na Natureza, e não banidas dela. Nesse cultura, tudo pertence à natureza. É natural. Até um episódio. É um procedimento seguro, especialmente se orientado por alguém que já passou por uma experiência semelhante. O mesmo acontece, quando alguns ocidentais experimentam as Plantas de Poder. É necessário estarmos em sintonia com a Natureza para as experiências com Plantas de Poder serem um sucesso. Não é qualquer um que pode usa-las. Tudo tem sua hora e momento.

Geralmente a loucura é uma discriminação social. Vocês podem estar se perguntando: Quer dizer que todos os Xamãs, em algum momento, sofreram um a incidente psicótico? Não necessariamente. Eles conhecem as portas e sabem como abri-las. E atravessam-nas com passo firme.

Os filósofos ocidentais do século XX: Nietzsche, Sartre, Camus, todos existencialistas! Intelectuais brilhantes. Grandes virtuoses da lógica. Só que partem da premissa que o homem é um ente solitário, um fugitivo da natureza. Sendo essa afirmação inquestionável, eles prosseguem seu raciocínio lógico, descrevendo uma filosofia baseada na unicidade e isolamento do indivíduo num universo que lhe é diferente e até hostil.

Como vocês podem ver, nunca fomos expulsos do Paraíso. O solo jamais foi amaldiçoado por nossa causa, conforme atesta a Bíblia. A natureza não nos é adversa. Nós somos seus Guardiões.

“Chegou o tempo do retorno, a hora dos Guerreiros do Coração seguirem seu destino no Aqui e Agora, desta jornada maravilhosa.

Voltei! O Vento me trouxe de volta e cá estou”.

Wagner Frota, um malabarista de plantão.