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O Caminho Xamânico

Muito provavelmente uma das mais difíceis conceituações está no complexo estrutural que é denominado Xamanismo, cuja dificuldade de percepção quanto aos seus significados está, paradoxalmente, ligada a uma simplicidade ancestral e que por estar eventualmente perdida no tempo, afasta o homem de sua própria natureza. É possível afirmar que o Xamanismo vem a ser o princípio inspirador de todas as religiões, sem que em nenhum momento possa ser considerado religião.

Aparentemente a história aponta a Rússia como o berço do Xamanismo, que se espalharia por todo o planeta, mantendo a Tradição, mas absorvendo variantes culturais, conforme a região em que surge. Há, entretanto, aqueles que imaginam que a filosofia xamânica está diretamente ligada às Nações Indígenas, o que não deixa de ser, parcialmente, correto, mas não de todo, por tratar-se de uma prática que relaciona aspectos únicos da inteiração entre homem, Cosmo e aspectos da Ancestralidade Universal.

A preparação do caminho do Xamã é, definitivamente, dura, pois depende primeiramente de uma série de desvínculos, sobretudo sociais, religiosos e culturais, o que torna imprescindível o processo iniciático que se dá em etapas inúmeras, de acordo com o aprendiz e com o tipo de chamado que recebeu, bem como depende da Tradição a qual se ligará.

Sem mestres, ou aparatos religiosos de espécie alguma, o Xamã desenvolve percepções, diga-se de passagem, apuradíssimas do natural e com ele se relacionará cada vez mais, de maneira mais profunda e reverente, o que não lhe fornece, pessoalmente, quaisquer garantias …

Enquanto mensageiro, o Xamã é aquele que transita entre os mundos, ou se preferirem como afirma o poeta: “o Xamã é aquele que transita entre o orvalho e a manhã”. Cabe a ele buscar em outros planos, as questões que devem ser materializadas aqui, neste plano existencial, e aí reside imenso treino,consciência afiada pela introjecção do processo iniciático de anos a fio, sensibilidade e um gigantesco Poder Pessoal, gerados a partir de exercícios específicos, bem como retiros prolongados, cujo intuito é reduzir condicionamentos e a própria pessoa ao Pó… Cósmico.

O caminho do Xamanismo exige abandonos, digamos absolutos, o que implica necessariamente em mortes rituais, a fim de que despido possa realizar seu trabalho de conexão entre homens e Universo. É fundamental colocar, antes de qualquer coisa, que Xamãs são raríssimos e que o longo trilhar do Caminho, não necessariamente fará de alguém um Xamã, e isto é definitivo.

Trilhar os Caminhos do Guerreiro, Mestre, Curandeiro ou Menestrel, implica em desapegos tais que geram a capacidade natural de transceder, bem como estar “acordado”, conecto, livre e desprendido de aspectos mundanos e piegas, tão comuns na Terra.

No caminho xamânico, não necessariamente, o uso de Plantas de Poder é uma tônica, inclusive existem ordens que não admitem o uso após uma determinada graduação do iniciado, entretanto há outras que se utililizam francamente dos expansores de consciência por serem um canal para fazer com que os neurotransmissores possam ser ativados pelos princípios da planta, resultando em uma espécie de explosão neural, geradora de resgates da Consciência Ancestral.

O questionamento sobre o ponto a chegar e a validade deste Caminho, imagino ser o ponto mais truncado para um buscador, pois a que se presta tal experiência e a que leva esta toda a busca, se o indivíduo de repente possui paz interior? Há algo aí, entretanto amigo, este não é sequer o limite ou o ponto central da busca.

Transcendência e percepção de outros universos, resgate de memória, enfim todo um legado que nos pertence e do qual não nos lembramos por estarmos atrelados às questões socias, culturais, dogmáticas e inúmeras censuras interiores. Transcendência…

Para atingir determinados pontos é preciso transcender a outros,invariável e impreterivelmente. Eis aí a batalha do bom guerreiro… As garantias não existem, obviamente, até porque é preciso Poder Pessoal para galgar este Caminho e isto se consegue com muito trabalho, tenha-se toda a certeza.

É bem verdade que existem incontáveis caminhos ou melhor, existem estradas e veredas mil para atingir a espiritualidade propriamente dita, cujas metas, não necessariamente, estejam centradas na prática do Xamanismo, há outras formas ou alternativas igualmente desprovidas de garantias …

O Caminho do Xamanismo é uma “escolha” pessoal e deve sempre ser absolutamente consciente.

Carlos Castaneda, discípulo de Dom Juan, índio da tribo Yaqui e um dos últimos herdeiros da Arte da Feitiçaria Tolteca, nos inspira nesta questão quando sugere que questionemos nossos passos, de forma que ao cruzar estradas, empreender buscas, alçar jornadas, é prudente que uma pergunta seja feita, sempre:

– “Há um coração neste caminho?” – se houver, o coração do caminho responderá certamente.

Estareis, pois, dispostos à redução do ego a tal ponto que possais perceber, sem qualquer dor, que sois o pó da morte e que nisto reside toda a alquimia da Vida?

Vento que sopra (uma Guerreira da Tribo do Arco-íris)